Mais dez trabalhadores foram resgatados neste mês de dezembro
O ano de 2021 fecha uma conta sinistra: mais dez trabalhadores foram resgatados do trabalho análogo à escravidão: seis em fazendas do Pará e quatro em Santa Catarina – esses últimos vítimas de tráfico de pessoas para o trabalho análogo à escravidão. Esses números se somam ao levantamento feito pela campanha nacional “De Olho Aberto para Não Virar Escravo”, da Comissão Pastoral da Terra, que aponta um total de 1.636 pessoas resgatadas do trabalho escravo no Brasil no período de 1º de janeiro a 9 de dezembro. O registro já é o maior no país desde 2013.
No Pará, os seis trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão estavam em fazendas localizadas nos municípios de Novo Repartimento e São Geraldo do Araguaia, durante a realização de duas forças-tarefas simultâneas na região no início deste mês de dezembro, e só agora divulgadas. A ação de resgate foi coordenada pelo Ministério Público do Trabalho no Pará e Amapá (MPT), ocorrida entre os dias cinco e 11 de dezembro.
Durante a operação, as equipes constataram diversas irregularidades, dentre elas estavam as péssimas condições de higiene e conforto dos alojamentos. Na fazenda localizada em Novo Repartimento, foram encontrados cinco trabalhadores que atuavam na extração de madeira. Em Novo Repartimento, eles moravam em um barraco coberto com lona, sem paredes e com chão de terra batida, no meio da mata fechada, sujeitos a intempéries e a ataques de animais. Os trabalhadores dormiam em redes e os pertences, como roupas, mochilas e objetos pessoais, ficavam pendurados em varais improvisados. Ainda segundo os agentes do órgão, não havia instalações sanitárias, fato que obrigava o grupo a fazer as necessidades fisiológicas no mato. Os alimentos eram guardados em uma prateleira feita com galhos de árvores e preparados em um fogareiro a lenha. A água consumida era retirada de um pequeno córrego, mesmo local utilizado para o banho, sem qualquer comprovação de potabilidade.
Em São Geraldo do Araguaia, mais um trabalhador foi resgatado pela equipe – um senhor de 59 anos, que há oito vivia em um quartinho de madeira sem higiene, privacidade ou segurança e que ainda servia de depósito de materiais.
Em Santa Catarina
Em Bom Retiro, na Serra catarinense, quatro pessoas foram resgatadas, vítimas de tráfico de pessoas para o trabalho análogo à escravidão. A suspeita é de que os três homens e a mulher encontrados teriam sido aliciados com falsas promessas de emprego e levados para produtores de cebola e maçã da região por um homem que intermediava a mão de obra.
Quando encontrados, os trabalhadores estavam alojados em uma casa que ficava aos fundos de um estabelecimento comercial. Uma menina de 14 anos, que era filha da mulher resgatada, estava entre o grupo.
Participaram da ação auditores-fiscais do trabalho, Polícia Rodoviária Federal (PRF), Ministério Público do Trabalho (MPT) e Defensoria Pública da União.
Levantamento do ano
O levantamento feito pela campanha nacional “De Olho Aberto para Não Virar Escravo”, foi atualizado até início de novembro. Outros dados apresentados apontam ainda 151 casos de trabalho escravo no meio rural neste ano, também superando a marca de 2013, quando foram contabilizados 142. Em 2021, o estado de Minas Gerais lidera com 49 casos e 731 pessoas resgatadas.
Em relação ao ano de 2020, houve um aumento de 102% de pessoas libertadas dessa prática criminosa. Os dados parciais, atualizados até o dia 9 de dezembro, mostram também que a quantidade de denúncias é a maior desde 2013.
Detalhamento da parcial de 2021
Desse total de 1.636 pessoas resgatadas neste ano, 54 eram crianças e adolescentes. As regiões Sudeste e Centro-Oeste concentraram o maior número de menores de idades escravizados, 17 cada. Essas duas regiões respondem, também, pelos maiores números de casos de trabalho escravo, de trabalhadores na denúncia e de libertados em 2021. A região Sudeste responde por 37% dos casos e 55% dos libertados, enquanto o Centro-Oeste responde por 22% dos casos e 24% dos libertados em 2021.
A pecuária foi a atividade que mais utilizou mão de obra escrava no campo em 2021. O setor responde por 23% do total de casos, seguida das lavouras permanentes (19%), lavouras temporárias (18%) e produção de carvão vegetal (11%). Porém, as lavouras temporárias registraram o maior número de resgatados da escravidão, 600 pessoas, 37% do total de resgatados no ano.
Quase um terço dos casos de trabalho escravo identificados no meio rural aconteceram na Amazônia Legal. Ao todo, foram 45, dos quais 38 foram fiscalizados. 193 trabalhadores foram libertados na região.
FONTES: BRASIL DE FATO, G1 PARÁ E G1 SANTA CATARINA